GOVERNADOR E PRESIDENTE DO TCE PRESOS, POR ENQUANTO, O AMAPÁ NÃO É AQUI.


Em entrevista a The Economist agora em janeiro de 2012, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso respondeu assim a pergunta, "A corrupção está aumentando?":
– Sempre tivemos algum grau de corrupção, aqui e ali, mas o sistema não era corrupto. Agora o sistema permite a corrupção como um ingrediente normal. A partilha do poder virou partilha de contratos.
Fernando Henrique praticamente reproduziu o que falou Francisco Bilac Moreira Pinto, político mineiro, autor do projeto que resultou na Lei n° 3.502/58, em 1960: “A corrupção, em numerosos e importantes setores governamentais do nosso país, assumiu tal intensidade e extensão que, desgraçadamente, parece ter sido institucionalizada”.
Os escândalos de corrupção seguem um ritmo louco, acumulados e interligados e cada vez mais lembram séries de cinema. Chegaram ao ponto de saturação como causa e conseqüência um do outro.  Sem limites ideológicos ou freios partidários, a corrupção freqüenta com a mesma desenvoltura os salões de sociedades democráticas e autoritárias, ou tem conta em bancos de sistema econômicos variados. 


Tornou-se praticamente impossível combater um reino corrupto sem também atingir outro trono ou feudo tomado pela mesma peste.
Não se trata mais de arrancar o mal pela raiz, mas de derrubar uma grande mata, levando junto toda sorte de insetos e pragas metamorfoseadas em uma corte de generais e serviçais, conselheiros e bajuladores, cortesãs e bobos da corte. 
Quando a ponta de um escândalo aparece, basta puxar o fio para a fiação subterrânea aparecer inteira no solo rachado, revelando um cenário de liquidação e ruínas, antes encoberto pelo tosco cimento da cumplicidade louca.
Por enquanto, o maior flagrante desse desatino aconteceu no Amapá, depois que a Controladoria-Geral da União, CGU, flagrou um esquema estadual de corrupção que desviou entre 2009 e 2010 cerca de R$ 800 milhões de reais em verbas do governo federal. 
Tamanho desvio de verbas, segundo investigação da Polícia Federal, começava no governo do Amapá e se espalhava até na prefeitura da capital, Macapá. Percorria ainda secretarias estaduais de Educação, de Saúde, de Justiça e Segurança Pública, de Inclusão e Mobilização Social, de Desporto e Lazer e também no Instituto de Administração Penitenciária. 
O esquema contava ainda com a "presteza" da Assembléia Legislativa do Amapá e do Tribunal de Contas do Estado do Amapá, TCE-AP.
A Operação Mãos Limpas, como foi apelidada, deixou o Amapá atônito em setembro de 2010, e mudou o rumo da política estadual. Cerca de 600 policiais participaram das ações desembarcadas em quatro Estados: Amapá, Pará, Paraíba e São Paulo. Além de desarticular uma rede criminosa composta por servidores públicos, políticos e empresários, a PF prendeu o governador do Amapá, Pedro Paulo Dias de Carvalho, filiado ao PP; o prefeito de Macapá, Roberto Góes, do PDT; um ex-governador Waldez Góes, do PDT; e o presidente do TCE-AP, José Júlio Miranda Coelho. 
Nas imagens que chocavam o Brasil, enquanto os agentes contavam malas cheias de notas de cem reais, embaladas à vácuo, outros cumpriam mandado de busca e apreensão em casas de luxo onde Ferraris, Mercedes e outras marcas dominavam os pátios de estacionamento.
Ao todo, levaram algemadas para Brasília 18 pessoas em um avião da FAB. O governador e o prefeito ficaram na superintendência da PF, os demais no complexo penitenciário da Papuda.
Tal acontecimento só aconteceu porque a CGU fez na prática o que o TCE do Amapá não fazia, fiscalizou. Fez trabalhos de auditoria em certames licitatórios, inspecionou contratos e pagamentos a fornecedores, analisou documentos. Encontrou e denunciou irregularidades que o TCE do Amapá não viu pelo hábito de fazer vista grossa: direcionamento e fraudes em licitações, sobre-preços flagrantes, compra e manutenção de veículos e equipamentos a preços superiores aos do mercado, desvio de finalidade na aplicação de recursos de convênios.
Contudo, o que aconteceu no Amapá não foi o suficiente para amedrontar esquemas parecidos que acontecem sabidamente em outros estados brasileiros, sobretudo, aqueles onde o poder executivo exerce um controle maior. 

Posted in , , . Bookmark the permalink. RSS feed for this post.

Leave a Reply

Busca

Swedish Greys - a WordPress theme from Nordic Themepark. Converted by LiteThemes.com.